FAÇA PARTE DA CASA DO MÉDICO           SERVIÇOS           SOBRE NÓS           APM NEWS           EVENTOS           REVISTAS           CLASSIFICADOS

menu

Atualização Científica: Vitamina D

Dr. Tadeu Fernando Fernandes

Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria, Especialização em Early Nutrition (ENS) pela Ludwig-Maximilians University Munich, Pós-Graduado em Nutrologia Pediátrica pela Boston University School of Medicine, American Academy of Pediatrics – AAP Membership, Presidente do Departamento Científico Pediatria Ambulatorial:Sociedade Brasileira de Pediatria, Membro do Depto. de Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Desde o século XV, são encontrados estudos no meio científico reportando patologias que envolvem a vitamina D, entretanto, foi com a revolução industrial na Inglaterra, no século XVIII, onde várias famílias imigraram da vida rural para o  trabalho nas fábricas das cidades industriais, que a deficiência de vitamina D e sua expressão clínica clássica, o raquitismo, se converteu em uma epidemia em toda Europa.1

No século XIX, um médico polonês observou que crianças que padeciam de raquitismo na área urbana de Varsóvia, curavam ou apresentavam grandes melhoras com os tradicionais banhos de sol. Cinco anos mais tarde um pesquisador francês reportou a cura em crianças suplementadas com um remédio caseiro feito do óleo de figado do bacalhau (rico em vitamina D). Mas foi somente no século XX que se iniciou a sistemática suplementação de vitamina D para prevenção do raquitismo.1

Atualmente, a vitamina D e seus pró-hormônios têm sido alvo de um número crescente de pesquisas, demonstrando funções além do metabolismo do cálcio e da formação óssea, incluindo sua interação com o sistema imunológico, o que não é uma surpresa, tendo em vista a expressão do receptor de vitamina D em uma ampla variedade de tecidos corporais.2

A hipovitaminose D é altamente prevalente e constitui um problema de saúde pública em todo o mundo. Estudos mostram uma elevada prevalência dessa doença em várias regiões geográficas, incluindo o Brasil. Pode acometer mais de 90% dos indivíduos, dependendo da população estudada. No Brasil, embora a maioria da população resida em regiões de adequada exposição solar, a hipovitaminose D é um problema comum e não restrita apenas aos idosos e mulheres menopausadas, mas também acometendo crianças e adolescentes.3

A explicação para esse quadro está ligada aos atuais hábitos de vida do brasileiro: 4

• Urbanização e crescente verticalização das residências.

• A institucionalização precoce das crianças em creches e escolinhas.

• A violência urbana encarcerou crianças e adolescentes dentro de sua própria residência.

• O mundo eletrônico das telas (televisão, computador, videogame, telefone celular) transferiu o lazer e brincadeiras realizadas ao ar livre e ensolarado para dentro de quartos escuros.

• A crescente epidemia de obesidade infantil é acompanhada de redução nos níveis de vitamina D, uma vitamina altamente lipossolúvel. As células de gordura não liberam de maneira uniforme e constante a vitamina D nelas armazenadas

• A conscientização do necessário uso dos filtros solares UVA e UVB com FPS acima de 15, quando da exposição à luz solar. A radiação ultravioleta é responsável por mais de 1,3 milhão de casos de câncer de pele nos EUA a cada ano. O correto uso de protetor solar absorve os raios UVA e UVB, mas um protetor solar FPS 15 reduz a capacidade da pele produzir vitamina D em 99%.

A vitamina D é única entre as vitaminas, pois funciona como um hormônio, sintetizada na pele a partir da exposição à luz solar, tendo como substrato inicial partículas de colesterol, que são utilizadas para fabricar uma molécula denominada 7-dehidrocolesterol que, na epiderme, ao ser penetrada por raios ultravioletas do tipo B, é transformada em pré-vitamina D.5

Uma informação recente e relevante: os lactentes possuem camada epidérmica mais fina e menor produção de melanina e, por isso, são mais suscetíveis aos danos da radiação ultravioleta à pele. A exposição excessiva ao sol na primeira infância está associada ao aumento do risco de câncer de pele no futuro.6

Reconhecidamente, a exposição solar é a principal fonte de vitamina D, porém, a exposição intencional e desprotegida, com o objetivo de suplementar a vitamina, não é mais recomendada.6

A suplementação de vitamina D é recomendada no Brasil para todo RN a termo, desde a primeira semana de vida até os dois anos de idade, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, na dose profilática de 400 UI/dia a partir da primeira semana de vida até os 12 meses, e de 600 UI/dia dos 12 aos 24 meses, inclusive para as crianças em aleitamento materno exclusivo, independentemente da região do país.4

Para os recém-nascidos pré-termo, a suplementação oral de vitamina D (400 UI/dia) deve ser iniciada quando o peso for superior a 1500 g e houver tolerância plena à nutrição enteral.4

O tratamento da hipovitaminose D é indicado para todos os pacientes com deficiência da vitamina, sejam eles sintomáticos ou não, com doses que variam de 2.000 a 6.000 UI/dia durante 3 meses, segundo a necessidade, fatores de riscos e idade de cada caso.4

O novo Guideline Mundial da Vitamina D nos traz de forma clara e objetiva as necessidades diárias para cada faixa etária, bem como as necessidades terapêuticas em situações de rotina e situações especiais, além de estabelecer os níveis normais de vitamina D como acima de 30 ng/mL. Entre 20 e 30 ng/mL considera-se insuficiência e níveis abaixo de 20 ng/dL, como deficiência.7

Conclusão: a vitamina D vem sendo uma das principais e mais estudadas substâncias do nosso organismo. Vários estudos apontam para a sua importância não somente no metabolismo ósseo, mas para sua correlação com os demais órgãos e tecidos e suas implicações em doenças não-ósseas, principalmente na vitalidade do sistema imunológico e hormonal.

Cresce o número de estudos e publicações; atualizações frequentes são importantes e fundamentais para podermos oferecer aos nossos pequenos pacientes quantidade e qualidade de vida.

Referências Bibliográficas

  1. National Academy of Sciences. Unravelin the enigma of Vitamin D. 2003. Acesso em maio de 2018. Disponível em http://www.nasonline.org/publications/beyond-discovery/vitamin-d.pdf.
  2. Marques CDL et al. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol 2010;50(1):67-80.
  3. Peters BSE et al. Prevalence of vitamin D insufficiency in Brazilian adolescents, Ann Nutr Metab.2009;54:15-21.
  4. SBP Departamento Científico de Endocrinologia. Hipovitaminose D em pediatria: Recomendações para o diagnóstico, tratamento e prevenção. Acesso maio 2018. Disponível em http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/12/Endcrino-Hipovitaminose-D.pdf.
  5. Holick MF. Vitamin D: evolutionary, physiological and health perspectives. Curr Drug Targets. 2011;12(1):4-18.
  6. SBP. Departamentos Científicos de Dermatologia e Neonatologia. Atualização sobre os Cuidados com a Pele do Recém-Nascido. SBP maio de 2021.
  7. SBEM. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arq Bras Endocrinol Metab 58 (5) • Jul 2014

Edição 152 da Revista Digital Notícias Médicas