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Inteligência Artificial e os Médicos: aliados em uma nova era da Medicina

Entrevista aborda impactos, Desafios da IA na prática médica

O avanço da inteligência artificial (IA) vem transformando diversas áreas, e a medicina não é exceção. Ela está presente, cada vez mais, no cotidiano dos profissionais de saúde. Seja na análise de exames por imagem, na predição de doenças ou na triagem de pacientes, essa poderosa ferramenta vem ganhando espaço em clínicas, hospitais e consultórios. Mas como exatamente a IA está sendo aplicada na medicina? De que forma ela complementa — e não substitui — o trabalho humano? Para entender como essas tecnologias estão sendo incorporadas ao dia a dia dos médicos, a equipe da Revista Digital Notícias Médicas conversou com o Dr. Antonio Carlos Endrigo, atual Diretor de Previdência e Mutualismo da Associação Paulista de Medicina. Na entrevista, o diretor aborda as principais aplicações da inteligência artificial na saúde. Uma reflexão necessária sobre como equilibrar inovação e empatia em uma medicina cada vez mais digital.

Quais são hoje as principais aplicações da inteligência artificial na medicina?
Um dos campos mais consolidados é o diagnóstico por imagem (radiologia, além de áreas de dermatologia e oftalmologia), onde algoritmos são capazes de analisar imagens médicas com alta precisão, identificando padrões que muitas vezes escapam à observação humana. Também se destacam os sistemas de predição de doenças, que cruzam dados clínicos, genômicos e comportamentais para prever riscos e antecipar possíveis desfechos, o que abre caminho para uma medicina mais preventiva. Já os sistemas automatizados de triagem, com assistentes virtuais, oferecem orientações iniciais, otimizam o tempo das equipes e ampliam o acesso à informação de qualidade. Outro campo promissor é o do apoio à decisão clínica com base em guidelines, em que sistemas inteligentes sugerem condutas baseadas em protocolos atualizados e no histórico individual do paciente, funcionando como uma segunda opinião qualificada. Por fim, a análise de prontuários eletrônicos com Processamento de Linguagem Natural (NLP),ramo da inteligência artificial (IA) que extrair informações relevantes de textos clínicos não estruturados, o que agiliza a organização das informações e melhora a qualidade do cuidado.

De que forma essas tecnologias estão sendo implantadas no dia a dia dos médicos e hospitais?

A adoção da inteligência artificial na rotina médica vem ocorrendo de maneira gradual e integrada aos fluxos já existentes, com foco em otimizar processos e apoiar a tomada de decisão. Um exemplo claro é a integração da IA aos sistemas de prontuário eletrônico, que permite maior agilidade na consulta, otimizando o tempo do médico, além de aumentar a segurança da informação. Nas unidades de urgência e na telemedicina, ferramentas de triagem automatizada já são utilizadas para agilizar o atendimento e direcionar os casos com maior precisão, liberando tempo dos profissionais para as situações mais complexas. Também vêm ganhando espaço as plataformas de apoio à decisão integradas ao workflow clínico, que operam nos bastidores do atendimento, sugerindo diagnósticos diferenciais, interações medicamentosas ou condutas baseadas em diretrizes — sempre como suporte, e não substituição, ao julgamento do médico. Por fim, em nível de gestão, sistemas de predição e estratificação de risco têm sido aplicados por gestores hospitalares e operadoras de saúde para mapear perfis de pacientes, antecipar complicações e planejar recursos com maior eficiência.

A IA pode melhorar a precisão dos diagnósticos? Como ela complementa o trabalho médico?
Sim, a inteligência artificial tem grande potencial para aumentar a precisão diagnóstica, especialmente em áreas onde o volume de dados é alto e o tempo de análise, limitado. A IA é capaz de processar rapidamente grandes quantidades de informações clínicas, laboratoriais e de imagem, identificando padrões que muitas vezes passariam despercebidos a olho humano. Ela não substitui o raciocínio clínico do médico — e nem deve —, mas atua como uma aliada, oferecendo subsídios baseados em evidências que ajudam o profissional a tomar decisões mais assertivas. Esse suporte é particularmente valioso em doenças complexas, raras ou em estágios iniciais, onde a combinação entre experiência clínica e tecnologia pode resultar em diagnósticos mais precoces e condutas mais eficazes.

Quais áreas da medicina têm sido mais impactadas pelo uso da inteligência artificial até agora?

Diversas especialidades já vêm colhendo os frutos da inteligência artificial, com destaque para a radiologia, onde a leitura automatizada de exames de imagem — como tomografias e ressonâncias — tem aumentado a velocidade e a precisão diagnóstica. Na oftalmologia, a IA tem sido utilizada com sucesso na detecção precoce de retinopatia diabética, ajudando a evitar complicações e a preservar a visão de pacientes diabéticos. A cardiologia também tem se beneficiado, com algoritmos que interpretam eletrocardiogramas (ECGs) em tempo real, contribuindo para diagnósticos mais. Na oncologia, modelos preditivos baseados em inteligência artificial vêm sendo desenvolvidos para estimar a resposta individual de pacientes a determinados tratamentos. Por fim, na área de saúde populacional, a IA tem auxiliado na estratificação de risco e predição de internações, permitindo uma gestão mais proativa e eficiente dos sistemas de saúde.

Na sua visão, a IA representa mais uma aliada ou uma ameaça à atuação dos médicos?
Definitivamente, a IA deve ser vista como uma Aliada estratégica da medicina. Ela potencializa a atuação dos profissionais ao reduzir tarefas repetitivas, ampliar a capacidade de análise de dados e, principalmente, liberar o médico para se dedicar ao que há de mais nobre na profissão: a relação humana com o paciente. O profissional que souber integrar essa tecnologia ao seu dia a dia será não apenas mais eficiente, mas também mais valorizado.

Como os profissionais de saúde estão se preparando para lidar com essas novas tecnologias? Há espaço para capacitação específica?
Sim, há um movimento crescente de capacitação dos profissionais de saúde em saúde digital e inteligência artificial. Universidades, hospitais e até startups de tecnologia têm oferecido cursos, workshops e treinamentos específicos para que os médicos se familiarizem com as ferramentas digitais que estão transformando a medicina. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a alfabetização digital do médico já se tornou essencial para a prática médica moderna.

Quais são os principais desafios éticos e legais relacionados ao uso da IA na medicina?

Existem vários desafios éticos e legais que precisam ser cuidadosamente considerados à medida que a inteligência artificial ganha espaço na medicina. Um dos principais é a responsabilidade médica e legal quando se trata de decisões apoiadas por IA. A privacidade e segurança dos dados sensíveis dos pacientes também é uma preocupação central. Com o aumento do uso de IA, é fundamental garantir que as informações pessoais e médicas dos pacientes sejam protegidas de forma rigorosa, evitando vazamentos ou usos indevidos. Outro desafio significativo é o viés algorítmico. Se os algoritmos forem treinados com dados enviesados, há o risco de que a IA reforce desigualdades existentes. Por fim, temos a transparência e interpretabilidade dos modelos de IA, especialmente os modelos de deep learning, que muitas vezes são vistos como “caixas-pretas”. Isso significa que, embora esses modelos possam ser altamente precisos, eles não são totalmente compreensíveis para os profissionais de saúde.

Existe o risco de a inteligência artificial desumanizar o atendimento médico? Como equilibrar tecnologia e empatia?
O risco de desumanização existe, mas apenas se a tecnologia for mal utilizada. No entanto, quando a inteligência artificial é aplicada de forma ética e inteligente, ela pode, na verdade, liberar o médico de tarefas repetitivas e burocráticas, permitindo que ele tenha mais tempo e energia para se dedicar ao aspecto humano da medicina, como a escuta ativa e a empatia. O equilíbrio se dá quando a IA é vista não como uma substituta da relação humana, mas como uma ferramenta complementar, que potencializa a atuação médica e permite ao profissional focar no cuidado, na comunicação e no acompanhamento próximo do paciente.

O que muda na relação entre médico e paciente com a entrada da IA nas rotinas clínicas?
Com a implementação da inteligência artificial, a relação entre médico e paciente tende a se tornar mais transparente e participativa. A IA proporciona ao paciente acesso a informações mais claras e compreensíveis sobre seu diagnóstico e opções de tratamento, o que pode aumentar a sua confiança no processo. Além disso, o médico, ao contar com mais embasamento e apoio na análise de dados, pode oferecer um atendimento mais preciso e personalizado. No entanto, para que isso aconteça de forma positiva, é crucial que o médico explique de maneira clara as ferramentas utilizadas e mantenha seu protagonismo clínico e a escuta ativa.

O que podemos esperar para o futuro da medicina com o avanço contínuo da inteligência artificial?

Um dos maiores impactos será a consolidação da medicina preditiva, personalizada e preventiva, onde a IA ajudará a prever riscos e a desenvolver planos de tratamento cada vez mais ajustados às necessidades individuais de cada paciente. Além disso, podemos esperar sistemas de apoio em tempo real durante atendimentos clínicos e cirúrgicos, que vão oferecer aos médicos informações cruciais para decisões rápidas e precisas. A integração total de dados clínicos será um marco, com a IA possibilitando a interoperabilidade entre diferentes fontes de informação. Outra inovação interessante é o uso de IA generativa, que será capaz de criar resumos clínicos automáticos, relatórios completos e até simulações de condutas, liberando o médico para focar mais no cuidado humano do paciente. A IA também impulsionará o aumento do acesso à saúde em regiões remotas, viabilizando a telemedicina de alta qualidade.

Como médicos estão lidando com essa nova realidade?
A forma como os médicos estão lidando com a introdução da inteligência artificial na medicina é marcada por um misto de curiosidade, receio e adaptação. Alguns profissionais estão entusiasmados com as novas possibilidades, enquanto outros se mostram mais céticos, principalmente no início. No entanto, à medida que os médicos começam a perceber os benefícios práticos, como maior precisão diagnóstica, economia de tempo e apoio à decisão clínica, a adesão tende a aumentar. A transição para essa nova realidade não é imediata e envolve um processo de capacitação contínua. A chave para um uso bem-sucedido da IA está no envolvimento dos médicos desde o início do desenvolvimento das soluções, para que possam se sentir parte ativa dessa transformação.

Dr. Antonio Carlos EndrigoDiretor de Previdência e Mutualismo da Associação Paulista de Medicina: Médico há 40 anos, especialista em Cirurgia Geral (RQE: Nº 12.411). Trabalhou como Diretor Médico em operadoras de planos de saúde e foi Gerente Geral de Desenvolvimento Setorial da ANS de 2010 a 2012. Atualmente é Diretor da APM, presidente da Comissão de Saúde Digital da AMB, membro do conselho fiscal do SINDHOSP e conselheiro da CEJAM, além de ser Sócio-Fundador da DTO.

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