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Palavra do Presidente APMSP: “A areia do tempo”

Quem sabe, porém, possamos mudar este cenário sombrio, à luz das recentes experiências

Neste Natal e na passagem do ano, muitos de nós vimo-nos e celebramos apenas a distância, em uma dimensão virtual. Ah, seria tão bom se pudéssemos nos abraçar! Gostaríamos tanto de experimentar, mesmo que por poucos instantes, a agradável sensação da proximidade física dos amigos e familiares, mas a prudência indica ser necessário aguardar tempos melhores. Resta-nos ainda a superação deste trágico incidente, que há dois anos tem magnetizado a atenção de todos.

Nas transições dos anos tem-se o hábito de fazer a retrospectiva dos últimos 365 dias e exercitar as expectativas para o futuro próximo. Vivemos uma catástrofe que nos separou definitivamente de muitos dos nossos queridos. Choramos amargas perdas. Não deixemos, todavia, de celebrar os que estamos vivos e bem, os tantos que conseguiram ultrapassar esse difícil momento. Fica a saudade dos que nos deixaram e o consolo daqueles que, conosco, seguem adiante.

Se no ano passado, olhar para frente nos deixava aterrorizados, este ano é bem diferente. Há a perspectiva da solução. Solução ao nosso alcance, mas condicionada à nossa postura face à realidade. Nestes dias difíceis, não enfrentamos um ser construído nas sombras de um laboratório imaginário, controlado por organizações criminosas, mas um vírus que se multiplica e se transforma celeremente, muito em razão de como vivemos e nos deslocamos.

De fato, o adensamento populacional e a rapidez das viagens reduziram as dimensões da Terra, multiplicando assim as possibilidades de contágio. Pandemias têm-se sucedido e já deveríamos ter aprendido que elas fazem parte da realidade de nossos tempos.

Sentimos o peso de imensas dificuldades e vimos como o ser humano é capaz de se reerguer, de encontrar caminhos. Nunca será bastante exaltar a reação da comunidade científica, a resiliência do ser humano e a sua fé no semelhante. Amparada em tecnologias digitais, a integração do conhecimento acumulado nos permitiu analisar possíveis alternativas diagnósticas e desenvolver intervenções terapêuticas eficazes, definir soluções e aplicá-las com rapidez.

As pragas, conta-nos a História, jamais vêm sós, mas sempre acompanhadas da intolerância e da ignorância. O vírus será detido pela vacina, mas há quem se recuse a ser vacinado. Há mesmo quem se empenhe em dificultar a ampliação da vacinação. Quem propague teorias fantasiosas sobre “experimentos macabros”, “manipulações genéticas” e “ocultação” de eventos adversos. Por outro lado, as grandes economias voltam-se à vacinação em seus territórios, mas ainda assim correndo o risco de deixar à margem as populações desfavorecidas, amanhã reservatórios das cepas mutantes que perpetuarão nosso pesadelo. Precisamos, mais do que nunca, informar e nos manifestar veementemente em prol da ciência, combater informações falsas e exercitar a solidariedade.

Hoje, tem-se nas vacinas a base do enfrentamento da pandemia. O desafio é vencer a desigualdade que assola o nosso planeta e, assim, trazer idosos ao convívio social, adultos ao trabalho e crianças à escola.

Na mudança do calendário, sente-se a passagem das horas, perde-se a nitidez dos fatos, e a areia do tempo lentamente se encarrega de tudo apagar. Cuidemos, pois, e com diligência, de limpar da areia o que não deve ser esquecido, as recordações que nos são caras e os erros que não queremos ver repetidos. Que 2022 nos receba melhores!

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM